segunda-feira, 18 de abril de 2011

A preto e branco


Trago palavras guardadas nos bolsos

no rosto rugas prolongadas
escritas na solidão de um espelho
que já não me reconhece.

– Afinal ao que vim?

Se o abandono já não se lembra de mim
Se a morte me nega o ensejo
E o ranger da porta calou-se forçadamente.

Resta-me o nascimento
de um último cabelo branco
e a violeta que guardo em segredo
no choro de um silêncio tão ruidoso.

– Não sei, porque ainda me contrario.

Se as minhas pernas já não aguentam os passos
que advêm da minha memória
nem por mim rezará qualquer história.

Sobrarão as cartas devolvidas ao remetente
E o sorriso que esboço num porta-retratos

A preto e branco.


Conceição Bernardino


PORTO

Publicado n' O DESTAK 18 de Abril 2011